O folhear das páginas de uma revista. É assim que o filme é construído, e apresenta para nós uma forma bem interessante e divertida de retratar, em imagens lúdicas em movimento, o que seria apenas impresso no papel. Mas não apenas isso. Afinal, um filme nada mais é do que a história impressa pulando do papel para a “realidade” 3D; pensando assim seria apenas mais um filme. Não. “A Crônica Francesa revista” está impressa em “A Crônica Francesa filme” (mesmo que isso pareça um pouco estranhamente sem sentido quando lido dessa forma).

Assistindo ao filme você encontra de tudo, todos os parágrafos, a capitulação, a divisão das seções, as ilustrações. Conseguimos sentir a revista e quase folhear suas páginas (digo quase, pois quem folheia para nós é o próprio Wes Anderson); tudo isso com o plus de estar sendo presenteado com histórias em ação na tela, rodeadas por tudo que faz de Wes Anderson, Wes Anderson: os movimentos de câmera transversais, a simetria e as cores…. ah, as lindas cores saturadas saltitantes na nossa frente (e a ausência de cor –  que traz uma adição de significado nas histórias).

Ok, é tudo visualmente e fotograficamente muito lindo, mas e as histórias? Bem, cada seção da última edição da Crônica Francesa apresenta um tema: primeiro, a introdução da cidade onde irão se desenvolvem as três diferentes aventuras jornalísticas, porém com o mesmo objetivo: entreter o leitor (nós) com enredos aparentemente banais, mas um crítico plano de fundo. Na seção “Artes e artistas” temos um talentoso pintor, preso por homicídio, e explorado pela sua arte; na seção “Política e poesia”, um grupo de estudantes revoltados e ainda meio perdidos no limbo juventude/vida adulta; a seção “Gostos e cheiros”, traz a culinária de um famoso chef, envolvendo o rapto de um menino, e o amor de pai e filho; e, por fim, as notas de um obituário do editor chefe, que confundiu o fim da revista com sua própria morte.

Nessa brincadeira de seções, as cores e a ausência delas, assumem uma função essencial, que, pensando bem, é usada da maneira mais criativa dentre os filmes de Wes até aqui. A vivacidade do presente e daquilo que é mais caro e especial para cada personagem apareceram sempre em cores, utilizados literalmente como o colorido de suas vidas, o que eleva e dá sentido às suas existências quando inseridos em um mundo em preto e branco. É como quando sentimos um quê especial nos momentos em que estamos mais felizes ou mais satisfeitos e na nossa cabeça tudo parece brilhar com maior intensidade.

É isso, A Crônica Francesa não é exatamente um filme em preto e branco, mas um dos filmes mais coloridos de Wes, se levarmos em conta que são esses os momentos que realmente importam e devem ser levados em conta, para o bem e para o aprendizado.

A Crônica Francesa (2021)

Diretor: Wes Anderson

Elenco: Bill Murray, Tilda Swinton, Owen Wilson, Timothée Chamalet, Benicio Del Toro (…)